terça-feira, 13 de outubro de 2009

Projeto: Um cinema diferente



O projeto: “Um cinema diferente’’, foi realizado em 2008 no Centro Estadual de Ensino Experimental Sesquicentenário na cidade de João Pessoa-PB. Estendeu-se por dois bimestres durante quatro meses, abrangeu o ensino médio, com sete turmas de 1°anos, sendo quatro pela manhã e três á noite, no total de 180 alunos.


A idéia do projeto surgiu por percebermos que, em sala de aula, principalmente nas aulas de artes, a aprendizagem não se pode resumir apenas a receber informações, mas principalmente à troca de experiências e conhecimento, com debates, análises e experimentação das configurações teóricas de imagem, movimento e som. Preocupei-me com a problemática relacionada à utilização da cultura midiática nas aulas de artes e com a necessidade de o alunado ter oportunidades de exploração destas culturas, tidas como tão importantes. Vemos como uma maneira de prepará-los para se expressarem mediante o audiovisual num mundo onde a comunicação e a arte os rodeiam. Para mim, como professora, a oportunidade de abordar diferentes metodologias que favoreçam a realização de análises e produções audiovisuais.

O uso destas culturas inclui, não somente, o alunado e o professor como produção e socialização de conhecimento, mas também transforma a instituição de ensino em um pólo de difusão cultural para a comunidade.


O projeto um cinema diferente
e
o PPP da escola


O que nos ajudou bastante foi percebermos que este projeto dialoga com o Projeto Político pedagógico da escola, por explorar possibilidades de experimentar novas formas de aprender e fazer no processo de aprendizagem na produção pedagógica e artística. A escola tem uma estrutura que favorece este tipo de atividade porque dispõe de um laboratório de informática, auditório com vídeo e data show. Além disso, possui uma parceria com uma cooperativa de ensino dentro do espaço escolar, que empresta ao alunado câmera de vídeo e digital, sendo primordial para execução deste projeto.






Iniciando com o audiovisual em sala de aula

Como no bimestre anterior tínhamos trabalhado com o tema da fotografia, pensamos em trabalhar, neste momento, com o audiovisual em sala de aula, tentando explorar o cinema de uma maneira diferente.. Antes de iniciar as atividades, procurei saber a opinião do alunado sobre como poderíamos criar este projeto. Baseado nas discussões que tivemos sobre o assunto, muitos comentaram que ‘‘não gostariam de apenas assistirem á filmes e fazer relatórios’’ e questionaram se poderiam produzir vídeos. Percebi que poderíamos trabalhar bem a etapa da produção e que era uma forma bem atual de trabalharmos com o cinema, fazendo uma ponte com as mídias tão exploradas pelo alunado em seu dia-a-dia e que precisaríamos de um conhecimento teórico sobre o assunto para que pudéssemos compreender melhor o que iríamos trabalhar.

Analisei as idéias e os perfis das turmas: as da manhã, o alunado era formado por adolescentes bastante ligados às tecnologias contemporâneas; já as da noite eram adultos e a maioria desconhecia como manipular computadores e máquinas digitais. Identifiquei mais esta problemática e falei que orientaria todo o processo. Inicialmente a resistência foi grande por parte do alunado principalmente os da noite, mas, aos poucos, pude agir de acordo com as suas limitações e, em seguida, incentivá-los á mudança.

A partir das informações e conversas com o alunado, comecei a planejar como iríamos trabalhar. Cheguei aos objetivos principais que foram: familiarizar-se com o audiovisual, aproximando o cotidiano do alunado com o escolar;, conectar-se com as produções artísticas de diversas épocas relacionadas com o cinema; realizar produções cinematográficas envolvendo a realidade em que vivem. Planejar possibilidades de exibição da produção cinematográfica de modo a atrair a atenção da comunidade.


Conhecendo a história do cinema: as tentativas iniciais

Com cada turma da manhã tínhamos duas aulas por semana, com 45 min. cada, e com as turmas da noite, apenas uma aula por semana com 45 minutos. No primeiro momento, utilizamos duas aulas, nos dois turnos, para tratar das mudanças que ocorreram no cinema. Levei os alunos para a sala de vídeo e assistimos aos vídeos: Origens do cinema capítulo 1-1 e origens do cinema capítulo 1-2.

Os vídeos mostram a origem do cinema, as primeiras tentativas de registrar o movimento nas mais primitivas formas, através do desenho e da pintura, e, posteriormente, com o surgimento do jogo de sombras, na China, por volta de 5.000 anos A.C., no qual os bonecos e os animais recortados eram manipulados contra a luz e projetados sobre paredes ou telas de linho, com sua ação narrada sempre por um operador. Depois, a câmara escura enunciada por Leonardo Da Vinci no século XV, e desenvolvida pelo físico Giambattista Della Porta, no século XVI, que projeta uma caixa fechada, com um pequeno orifício coberto por uma lente onde penetram e se cruzam os raios refletidos pelos objetos externos, aparecendo à imagem invertida no fundo de dentro da caixa. A lanterna mágica, que foi criada pelo alemão Athanasius Kirchner, no século XVII, na qual se mostra o inverso da câmara escura: uma caixa cilíndrica iluminada a vela, que projeta as imagens desenhadas em uma lâmina de vidro. Em seguida, discutimos sobre os vídeos que assistimos, tentando compreender em que período ocorreram as mudanças nas representações do movimento e os lugares em que se manifestaram.


Conhecendo a história do cinema: os registros do movimento

No segundo momento, utilizamos duas aulas, nos dois turnos. Comentamos o que vimos na aula anterior e continuamos a compreender o processo de representação do movimento em diversas épocas, conhecendo os primeiros aparelhos utilizados para captar e reproduzir a imagem do movimento. Formulei um material com imagens e pequenas descrições dos aparelhos como apresentação e exibi em data show para o alunado na sala de vídeo. Neste material, conhecemos vários aparelhos baseados no fenômeno da persistência retiniana (fração de segundo em que a imagem permanece na retina), descoberto pelo inglês Peter Mark Roger, em 1826. A fotografia, desenvolvida simultaneamente por Louis-Jacques Daguerre e Joseph Nicéphore Niepce, e as pesquisas de captação e análise do movimento, que representam um avanço decisivo na direção do cinematógrafo, que demonstram bem a evolução do movimento representado pelo desenho, passando a fotografia e logo após o vídeo.

São eles:


Fenacistoscópio - Um disco com várias figuras desenhadas em pos

ições diferentes que ao girar adquirem movimento. A idéia era apresentar uma rápida sucessão de desenhos de diferentes estágios de uma ação, criando a ilusão de que um único desenho se movimentava inventado por Plateau 1832.

Praxinoscópio - Aparelho que projeta na tela imagens desenhada sobre fitas transparentes, inventado pelo francês Émile Reynaud (1877). A princípio uma máquina primitiva, composta por uma caixa de biscoitos e um único espelho. Logo após é aperfeiçoado com um sistema complexo de espelhos que permite efeitos de relevo. A multiplicação das figuras desenhadas e a adaptação de uma lanterna de projeção possibilitam a realização de truques que dão a ilusão de movimento.



Fuzil fotográfico - Um tambor forrado por dentro com uma chapa fotográfica circular. Seus estudos se baseiam na experiência desenvolvida, em 1872, pelo inglês Edward Muybridge, que decompõe o movimento do galope de um cavalo. Muybridge instala 24 máquinas fotográficas em intervalos regulares ao longo de uma pista de corrida e liga a cada máquina fios que atravessam a pista. Com a passagem do cavalo, os fios são rompidos, desencadeando o disparo sucessivo dos obturadores, que produzem 24 poses consecutivas. Foi desenvolvido pelo fisiologista francês Étienne-Jules Marey em 1878.

Cronofotografia - Pesquisas posteriores sobre o andar do homem ou o vôo dos pássaros levam Étienne-Jules Marey, em 1887, ao desenvolvimento da cronofotografia a fixação fotográfica de várias fases de um corpo em movimento, que é a própria base do cinema.

Cinetoscópio - O norte-americano Thomas Alva Edison inventa o filme perfurado. E, em 1890, roda uma série de pequenos filmes em seu estúdio: o Black Maria, primeiro da história do cinema. Esses filmes não são projetados em uma tela, mas no interior de uma máquina, o cinetoscópio – também inventado por Edison um ano depois. Mas as imagens só podem ser vistas por um espectador de cada vez.


Cinematógrafo – A partir do aperfeiçoamento do cinetoscópio, os irmãos Auguste e Louis Lumière idealizam o cinematógrafo em 1895. O aparelho – uma espécie de ancestral da filmadora – é movido a manivela e utiliza negativos perfurados, substituindo a ação de várias máquinas fotográficas para registrar o movimento. O cinematógrafo torna possível, também, a projeção das imagens para o público. O nome do aparelho passou a identificar, em todas as línguas, a nova arte (ciné, cinema, kino etc.).


Vivenciando o processo de representação do
movimento: do flip book tradicional ao digital

Após as turmas conhecerem estes aparelhos, começaram a discutir o que tinham percebido de mudanças, de acordo com cada época em que surgiu e como o movimento era representado. A maioria ficou bastante surpresa em ver formas tão primitivas de captar e registrar o movimento, percebendo sua importância atualmente, pois, muitos compararam com aparelhos atuais, que tinham contato facilmente, como por exemplo: a câmera do celular que faz vídeo e fotografa, o mp4, o DVD, a câmera digital, câmera de vídeo e outros.

Depois da discussão, questionei como poderíamos trabalhar a partir do que conhecemos. As idéias foram surgindo um pouco vagas, então reforcei que pensassem como poderíamos representar o movimento, baseado nestas formas primitivas, mas de uma forma que fosse voltada para o nosso cotidiano. Entre algumas idéias, surgiu a de criarmos um ‘’flip book’’(um bloquinho de papel onde desenhariam em cada folha um desenho em seqüência, depois folhearíamos com certa velocidade as folhas do bloquinho e conseguiríamos ver o movimento dos desenhos que foram feitos), a idéia tinha muito a ver com o nosso objetivo, mas ainda preocupei-me em não ficarmos no desenho convencional do papel e do lápis e sugeri que criássemos um flip book digital no computador.

No terceiro momento, utilizamos quatro aulas nos dois turnos, estas aulas foram realizadas na sala de informática. Antes de seguir para a sala, conversei sobre nossas idéias e expliquei como faríamos o flip book digital (usaríamos o programa Paint do Windows, que é um programa de fácil manipulação, no qual podemos desenhar várias formas. Faríamos o mesmo que no papel, a diferença é que salvaríamos as imagens em uma numeração seqüenciada, onde, depois, passaríamos a certa velocidade para ver o movimento). As turmas da manhã, como já mencionei anteriormente, têm mais facilidade de manipular o computador, já as da noite, alguns alunos ainda não eram familiarizados com esta tecnologia. Propus que os ajudasse no decorrer da atividade. Houve resistência pelos alunos mais adultos, mas a maioria tentou aprender. Pedi que acompanhassem o processo, explicando que, inicialmente, poderiam fazer com o bloquinho de papel e depois, ao se sentirem mais a vontade, poderiam fazer no computador, e, aos poucos, iríamos avançando.

Em seguinda, levei as turmas para a sala de informática e os dividi em duplas. Cada dupla ficou em um computador. expliquei novamente como seria o flip book digital. Deveriam tentar representar o movimento através dos desenhos e criar cenas livres de movimentos, que estão acostumados a ver atualmente. Alguns disseram não saber desenhar no computador, foram fazendo testes. Discutimos sobre as ferramentas do programa Paint e aos poucos foram surgindo às formas. Deixei que criassem os desenhos e os acompanhei lembrando que precisariam ficar em seqüência e como teriam que ir salvando.



Assistindo às animações produzidas em sala de aula


No quarto momento, utilizamos duas aulas. Decidimos ver o resultado das animações com os desenhos. Assistimos, inicialmente, às animações pelo visualizador de imagens do Windows no computador conectado ao data show, passando as imagens em seqüência em uma determinada velocidade. Observamos o movimento que conseguiram com os seus desenhos. Este momento foi muito interessante, pois percebemos como um desenho feito com formas simples pode ganhar vida. Surgiram movimentos dos mais simples aos mais detalhados de cores e formas, mas o mais importante era mesmo o movimento.

Avaliando os resultados


Discutimos sobre como foi fazer esta atividade e tentamos avaliar. Vimos que o objetivo de conseguir representar o movimento através do desenho de uma forma mais atual foi alcançado, mas que precisaríamos melhorar a apresentação das animações. Então, sentimos a necessidade de um programa que reunisse as imagens em apresentação e que ficassem na velocidade ideal para assistirmos. Foram sugeridos alguns nomes de programas de edição de vídeo e ficamos de analisar qual seria o mais acessível e fácil de manipular para todos. Alguns alunos se mostraram interessados a compartilhar com os demais estes programas de edição. E então, combinei que posteriormente separaríamos algumas aulas para trabalharmos a etapa de edição das imagens, não só desta atividade como das produções seguintes.

Nesta atividade percebi que o processo foi um pouco demorado, pois tive que acompanhar aula à aula, todas as duplas. Como muitos não estavam acostumados a fazer desenhos no computador, com o mouse, foi um pouco mais complicado, principalmente os alunos que tinham mais dificuldade. A quantidade de alunos também dificultava bastante, pois não tinha computador suficiente para todos. E então, tivemos que revezar muitas vezes para que todos pudessem realizar a atividade. Por isso, avaliei os resultados positivamente, com a sensação que demos um primeiro passo muito importante para o que viria pela frente.


Experimentando o filme de animação com o Stop Motion

No quinto momento, utilizamos quatro aulas, com o propósito de trabalhar com a fotografia da

mesma maneira que trabalhamos com o desenho, mas desta vez animando com objetos, bonecos e pessoas. Levei as turmas para a sala de vídeo e exibi um material sobre Stop Motion (animação com fotografias em sequência) com imagens e textos explicando como fazer uma animação com bonecos e expliquei como fazer um Story Board (roteiro de animação com desenhos e texto). Mostrei também alguns exemplos de pequenos vídeos de Stop Motion que encontrei na internet

de animações: bonequinhos dançantes (http://www.youtube.com/watch?v=PAmUyIfxZPc ), pl

aymobil (http://www.youtube.com/watch?v=1_KQVk2BUo4) e Animação com Massa de Modelar

- Colégio Aprendiz do Futuro – 2008 (http://www.youtube.com/watch?

v=JMDgQZ58U50).

Após assistirmos aos vídeos, pedi que se dividissem em grupos e criassem uma história e o seu roteiro. Desta vez, pedi que, além de ressaltar o movimento, tentassem criar cenas que contassem algumas histórias ou mensagens sobre algo que quisessem expressar. Orientei na criação dos roteiros de acordo com as cenas que pretendiam fazer e sugerindo alguns materiais poderiam utilizar. Finalizei este momento lembrando que trouxessem na aula seguinte materiais (bonecos, massa de modelar, objetos e câmera digital) para começarmos a fazer as animações, testar cenários e fotografias.


No sexto momento, utilizamos quatro aulas com os dois turnos. Alguns estudantes levaram para

sala de aula máquina digital, bonecos, objetos e massa de modelar para começarmos a experimentar as formas de criar uma animação. Como nem todos haviam levado material por sentirem dificuldade em conseguir ou por não terem, começamos explorando os que tinham levado como exemplo para os outros. Testamos a melhor posição para fotografar e a posição dos bonecos de acordo com o roteiro que o grupo tinha feito nas aulas anteriores. A turma pode perceber o que era necessário para criar a animação e as possíveis alterações necessárias no roteiro. Pudemos perceber também que é um processo demorado e de paciência, pois, a cada fotografia feita, altera-se a posição dos bonecos adquirindo movimento à cena. Quanto mais detalhado, mais evidente fica o movimento, por isso eram necessárias várias fotografias.

Um grupo escolheu fazer a animação com eles mesmos como personagens e os deixei à vontade. Combinaram nas aulas o figurino, as posições que ficariam no momento da fotografia, de acordo com o roteiro e o local onde fariam as fotografias. Outros tinham ambientes específicos fora da sala de aula que pretendiam fazer a animação, usando cenário natural. Na medida em que eu ia percebendo que o alunado estava conseguindo fazer sozinho, eu os deixei livres para desenvolverem as animações. Alguns grupos fizeram na escola revezando o uso da única máquina digital disponível e outros preferiram produzir as animações em casa, por terem maior acesso aos materiais que queriam, bem como o uso de máquinas digitai,s que tinham em casa e tinham dificuldade de levar para escola.

Com as turmas da noite, fizemos tudo nas aulas. O tempo era muito curto e só tínhamos uma máquina, o que dificultou bastante o processo, pois pouco dava para fazer uma animação em cada aula. Percebi que precisaríamos dedicar mais tempo a esta atividade com estas turmas e dediquei mais aulas para atingir o objetivo. Senti dificuldade também de registrar imagens destes momentos de criação, pois a única máquina que tínhamos estava em uso frequente. Dei importância à produção naquele momento.


Outras experimentações com programas digitais mais complexos

No sétimo momento, utilizamos duas aulas nos dois turnos. Separei estas aulas para que os alunos voluntários compartilhassem com os demais os programas de edição de vídeo e imagem onde adicionamos as fotografias em seqüência. Colocamos na velocidade ideal para apresentação. Pudemos inserir som, legenda, títulos e créditos. Levamos para sala de aula o notebook da escola junto com data show e separamos dois programas para demonstrar: o Windows Movie Maker (programa de edição de vídeo dispo

nível em qualquer computador que tem o Windows) e o Macromedia fireworks (programa de edição e animação de imagens). Observamos que o Movie Maker é mais fácil de manipular e de fácil acesso e o Fireworks é um programa especifico e mais profissional. Embora bastante simples de manipular também, mas é de acesso mais difícil. Os estudantes fizeram experimentações de criação e edição. Foram explorando os detalhes. As turmas mostraram-se interessadas e acolheram bem as explicações dos colegas. Com as turmas da noite expliquei como funcionava a edição das imagens para que compreendessem o processo de finalização da animação no computador com data show. Deram dicas de sons e definiram os títulos e créditos para as animações.



Refletindo sobre o processo de criação de filmes de animação


No oitavo momento, utilizamos duas aulas nos dois turnos. Em três aulas assistimos as apresentações das animações dos grupos. Foi bastante interessante, pois mesmo conhecendo algumas histórias, o resultado final é surpreendente. Vimos como simples objetos podem ganhar vida com a animação. Alguns grupos se expressaram com histórias do cotidiano, com cenas que estão acostumados a verem nas ruas, na escola, em casa e na mídia em geral (assalto, agressão, acidente de trânsito, esportes, romance, dança, etc.). Outros grupos criaram histórias imaginadas , bem diferentes com robôs e monstros.

Na aula seguinte, discutimos como foi para os grupos fazerem as animações. A grande maioria falou da dificuldade inicial que tiveram para conseguir colocar em prática o roteiro e a paciência na hora da produção. Ressaltaram ainda a oportunidade que tiveram de criar as histórias (não estavam amarrados a um tema) e das animações em si, o trabalho em equipe e a articulação com tecnologias atuais. Avaliei esta atividade observando o que foi feito, como foi feito de acordo com o resultado apresentado e como os grupos sentiram. Percebi que, além de surpreendente o resultado final, também foi uma atividade envolvente. Os estudantes trabalharam com vontade. Percebi que, no começo da atividade, alguns grupos estavam desmotivados e com dificuldades, mas que, no desenrolar da feitura das produções, foram mudando de atitude, principalmente os estudantes da noite, que merecem uma atenção especial por terem apresentado resistência e tido mais obstáculos que os da manhã, mostrando-se participativos em todo processo. As produções dos estudantes foram divulgadas no blog ensinando artes visuais (www.ensinandoartesvisuais.blogspot.com), com o qual atuo como colaboradora. A intenção era dar maior visibilidade à experiência e incentivar outros professores a desenvolverem atividades similares quando estivessem trabalhando com o cinema na escola.

Uma introdução à discussão do cinema como arte


No nono momento, utilizamos quatro aulas com as turmas da manhã, pois as turmas da noite, por terem pouco tempo e menos aulas que as da manhã, preencheram todo o tempo com as atividades de animação (Stop Motion), sendo assim a sua atividade final. Neste momento, levei as turmas para sala de vídeo e exibi um material em apresentação no data show sobre o vídeo no cinema, com informações e imagens sobre os primeiros filmes, os gêneros, cinema estrangeiro e nacional. A proposta era introduzir uma discussão sobre as especificidades do cinema como arte, explorando técnicas e efeitos característicos ao processo cinematográfico. Segue, adiante, um breve resumo do assunto exposto aos estudantes, que puderam opinar e participar com perguntas e questionamentos.

Seguindo a evolução dos aparelhos que captam e reproduzem o movimento, vimos que a apresentação pública do cinematógrafo marcou, oficialmente, o início da história do cinema, primeiramente com o cinema mudo. O som veio três décadas depois, no final dos anos de 1920. A primeira exibição pública das produções dos irmãos Lumière ocorreu em 28 de dezembro de 1895, no Grand Café, em Paris. “A saída dos operários das usinas Lumière”, “A chegada do trem na estação”, “O almoço do bebê” e “O mar” são alguns dos filmes apresentados. As produções são rudimentares, em geral documentários curtos sobre a vida cotidiana, com cerca de dois minutos de projeção, filmados ao ar livre.

O advento do som, nos Estados Unidos, revolucionou a produção cinematográfica mundial. Os anos de 1930 consolidaram os grandes estúdios e consagraram astros e estrelas em Hollywood. Os gêneros se multiplicam e o musical ganhou destaque. A partir de 1945, com o fim da 2a Guerra, há um renascimento das produções nacionais – os chamados cinemas novos.Os anos 30 consolidam os grandes estúdios e consagram astros e estrelas em Hollywood. Os gêneros se multiplicam e o musical ganha destaque. A partir de 1945, com o fim da 2a Guerra, há um renascimento das produções nacionais – os chamados cinemas novos. Nos

Estados Unidos, após a Depressão, a indústria recupera-se. Hollywood vive os seus anos de ouro em 1938 e 1939. Surgem superproduções como o Vento Levou.Novos recursos técnicos possibilitam o desenvolvimento pleno de todos os gêneros. Vimos que os musicais surgiram em Hollywood na década de 30 e se caracterizaram por roteiros musicais que mesclam danças, cantos e músicas. No início dos filmes falados, os musicais sofrem grande influência do teatro.

A comédia foi um gênero que se consolidou na década de 1920. A combinação de ousadias eróticas e certa dose de crítica do cotidiano resultaram na comédia de costumes, que dominava o

cinema americano. Os filmes de terror têm em comum o desequilíbrio e a transgressão do real. Em 1931, “Drácula” (Dracula - 1931) e “Frankenstein” (Frankenstein - 1931) entraram em cena. Um ano depois, foi a vez de “O Médico e o Monstro” (Dr. Jekyll and Mr. Hyde - 1932), baseado no romance de Robert Louis Stevenson. Em 1933, o gorila “King Kong” (King Kong - 1933) assustava as platéias do mundo inteiro.

Os filmes policiais surgiram na França, no começo do século, mas é nos Estados Unidos, a partir da década de 1930, que o gênero se firma. Cenários sombrios e escuros, neblina, cenas de crimes e violência envolvem detetives, policiais, aristocratas e belas mulheres. O filme “
noir” - como os franceses o denominaram - logo se impõe como um grande gênero. Destacam-se Howard Hawks por “Scarface” - (Scarface - 1932) e John Huston por “Relíquia Macabra” / “Falcão Maltês” (The Maltese Falcon - 1941).

Discutimos sobre as diferenças entre os filmes antigos e filmes atuais, nacionais e estrangeiros e sobre os diferentes gêneros: policial, romance, ação, comédia, terror, musical etc. Na medida em que exibia as imagens dos gêneros de filmes, pedi que o alunado comentasse sobre o que tinham visto e ouvido, instigando-os a citar outros filmes mais atuais, de acordo com o conhecimento deles. Alguns foram destacados como: Tropa de elite (policial), Pânico (terror), Todo mundo em pânico (comédia), Moulin Rouge e High School Music (musical), etc.

Nas aulas seguintes assistimos ao filme nacional Tapete Vemelho, Um filme de Alberto Pereira, com Matheus Nachtergaele, Gorete Milagres e Vinicius Miranda como atores principais, apresenta uma história que tenta resgatar a valorização do cinema e da comédia a partir dos filmes antigos do Mazaroppi de uma forma bem humorada, crítica e social. O que nos rendeu uma boa discussão sobre a desvalorização, o desenvolvimento, e a linguagem cinematográfica do cinema nacional.


Assistindo um filme no cinema

Alguns estudantes sugeriram que fossemos, todos, ao cinema. Sondei com as turmas o que achavam da idéia e a grande maioria concordou. Reservei uma sala de cinema exclusiva para o alunado no Box Cinemas localizado no shopping Manaíra, na nossa cidade. Escolhemos um filme, que estava em cartaz, por votação. Deixei que escolhessem um filme de censura correspondente à faixa etária deles, pois não queria impor que assistissem a um filme que eu quisesse ou que fizessem alguma leitura ou relatório. Expliquei que esta aula extraclasse seria para vivenciarmos, juntos, um momento de experimentação em grupo de um conteúdo que estávamos trabalhando em sala de aula.

O filme escolhido pela maioria foi: As crônicas de Nárnia II, um filme estrangeiro; já que já havíamos assistido um filme nacional. A experiência foi muito proveitosa, pois, foi interessante ver os alunos trabalhando a organização em um grupo grande e vivenciando algo que tanto falamos em sala de aula e que faz parte do cotidiano e cultura deles. A visita ao cinema ajudou a reforçar a noção do cinema como arte, que necessita de espaços específicos para a sua exibição. Foi uma maneira de reforçar que a atitude de ir ao cinema também é uma atividade artística e cultural.


Experimentando elaborar filmes
explorando os diferentes gêneros cinematográficos

Filmes produzidos pelos estudantes


No décimo momento, utilizamos quatro aulas e continuamos focando na produção, desta vez com o objetivo de elaborar filmes baseando-se nos gêneros hollywoodianos (terror, comédia, ação, drama, terror e outros). Pedi que formassem grupos como na atividade anterior Começamos a discutir como seriam os vídeos que produziríamos. Concluímos que seria um vídeo curto (máximo cinco minutos), com cenário e figurino. Teriam que desenvolver uma história de acordo com algum gênero de filme e construir um roteiro. Os grupos começaram a escrever as historias e definir as cenas nos roteiros. Fui orientando e acompanhando este processo, percebendo como cada grupo pretendia trabalhar.A grande maioria dos grupos preferiu filmar em cenários externos. Deixei-os livres para produzirem os vídeos, apoiando no que precisavam.

Nas aulas seguintes, assistimos aos vídeos criados pelos grupos. Todos já editados com título, créditos, efeitos e som, como tínhamos aprendido com o programa de edição de imagens. Após as apresentações tivemos uma conversa sobre como foi fazer este trabalho. Alguns falaram que gostaram muito de criar uma historia e contá-la de uma forma diferente, que era gratificante ver o resultado depois de um trabalho em grupo. Disseram que se divertiram ao mesmo tempo que trabalharam e aprenderam a questionar o mundo em que vivem na medida que iam escrevendo as histórias, mesmo quando eram relacionadas com algo que observam ao seu redor. Destacaram como existe uma preocupação em fazer arte por intermédio de uma mídia tão utilizada no dia-a-dia e que, às vezes, esquecemos que nos é tão favorável.

Avaliei esta atividade de uma forma positiva, apesar de ter percebido que alguns grupos ficaram dispersos, confundindo os gêneros dos filmes, tentando representar histórias ou músicas já existentes, não se focando no nosso objetivo principal que era a criação de um momento onde todos do grupo teriam que pensar o porquê de escrever e produzir aquela história. A maioria me surpreendeu, pois trabalharam muito bem em grupo, principalmente os que tiveram a idéia de gravar em locais externos. Levaram a sério todo o processo de criação, produção e edição, o que fez o resultado ficar de acordo com o nosso objetivo final. Contudo, o mais importante foi perceber que, com algumas dificuldades técnicas, conseguimos desenvolver trabalhos bastante interessantes.


Um cinema diferente na I Bienal de Artes do Sesquicentenário

Estudantes preparando a sala de cinema

No momento final, decidimos apresentar o resultado dos nossos trabalhos à escola e à comunidade. Neste ano, estávamos nos preparando para a I Bienal de Arte da escola. Entendemos que este seria o cenário ideal para a culminância do nosso projeto. Como eram muitos alunos envolvidos no projeto e a maioria estavam envolvida em muitos outros projetos de outras disciplinas da escola, que seriam apresentados na Bienal, pedi apenas a alunos voluntários para participarem da preparação da apresentação final do projeto. Reunimo-nos e decidimos como faríamos para apresentar nossos vídeos. Entre uma idéia e outra, decidimos criar uma sala de cinema diferente, que estaria coerente com o titulo do nosso projeto. Tentaríamos construir mesmo um cinema diferente.

No dia do evento, contamos com o apoio da direção da escola, que tinha conseguido recursos financeiros da Secretaria de Educação do Estado da Paraíba para apoiar a realização da I Bienal de Artes do Sesquicentenário. A direção cedeu o material para revestir a sala inteira (teto, paredes e piso). Emprestou-nos data show, uma sala de tamanho médio com ar condicionado e uma verba para o pagamento do carrinho de algodão doce, que contratamos para ficar em frente da nossa sala de cinema, durante a abertura do evento e das primeiras apresentações do nosso projeto. A Bienal durou três dias e fizemos exibições durantes todos os dias. Revestimos toda a sala com TNT preto e fita adesiva. Criamos um pequeno espaço de projeção no fundo da sala, onde colocamos o data show para exibir os vídeos, e, ao invés de cadeiras, decidimos colocar almofadas coloridas contrastando com o preto da sala. Na parte externa, criamos um letreiro com o nome do cinema e dois cartazes laterais, divulgando dois filmes produzidos pelos estudantes com o letreiro ‘’em breve’’ e ‘’em cartaz’’.


Culminância do projeto

Na abertura do evento, os estudantes dividiram-se em grupos e saíram distribuindo ingressos do cinema para os convidados. Aos poucos, foram formando uma grande fila em frente à sala de cinema. Todos os convidados, que iam chegando, recebiam o ingresso e um algodão doce e, depois, entravam na sala para assistirem aos filmes. Os estudantes divulgaram e apresentaram o projeto para os visitantes.Foi um sucesso de público, pois a comunidade, a escola, os pais e os demais alunos puderam assistir aos trabalhos dos integrantes do projeto. Puderam vivenciar, juntos, um ensino de arte de uma maneira bem diferente.

Em todo o processo, percebi que o alunado assumiu o projeto, as responsabilidades, sendo parceiros uns com os outros, trabalhando bem em equipe. Envolveram-se tanto que queriam fazer outros filmes. Queriam continuar criando. Isso foi mesmo surpreendente. As dificuldades que, muitas vezes nos deparamos no dia-a-dia, ficaram pequenas diante do trabalho final. Ver o resultado e o envolvimento é muito gratificante, acompanhando o processo de aprendizagem efetivado a cada atividade, além de compreender a forma de cada um se expressar, percebendo o quanto é importante respeitar a produção de cada estudante.




Convidados assistindo

aos vídeos dos estudantes


Presumo que este grande envolvimento do alunado ocorreu não só por ter sido algo diferente do que estavam acostumados, mas por explorar uma cultura tão atual para eles (as), e por terem sentido que poderiam se expressar através das atividades. Um projeto pedagógico por mais difícil que nos pareça de aplicar, só chegará ao seu objetivo se não tivermos medo de errar. Só assim saberemos se vai funcionar, abraçando a idéia e indo até o fim. Embora eu pense que um projeto nunca tem fim, sempre pode ter desdobramentos e ser praticado em outras tantas oportunidades.


Referências


História do Cinema. [Consulta em 01/07/2008]

Disponível em: http://www.webcine.com.br/historia1.htm

Passo a passo da animação com bonecos. [Consulta em: 04/07/2008]

Disponível em: http://criancas.uol.com.br/novidades/ult2314u187.jhtm

Bonequinhos dançantes. [Consulta em: 10/07/2008]

Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=PAmUyIfxZPc

Playmobil. [Consulta em: 10/07/2008]

Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=1_KQVk2BUo4

Animação com Massa de Modelar - Colégio Aprendiz do Futuro, 2008. [Consulta em:10/07/2008]

Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=JMDgQZ58U50


Origens do cinema- Capitulo 1-1. Consulta em: 02/07/2008]

Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=f7JQvgYLkg8&feature=related


Origens do cinema- Capitulo 1-2. Consulta em: 02/07/2008]

Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=ftwxfSL4O8A&feature=related


A Arte do Storyboard. [Consulta em: 10/07/2008]

Disponível em: http://www.spacca.com.br/educacao/storyboard.htm






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