terça-feira, 25 de março de 2008

1- Por que trabalhar as diferenças visuais na representação de pessoas?

A escolha do tema do projeto decorreu de uma busca de tentar atender a necessidade do alunado. Queria trabalhar a partir de algo que fizesse a diferença, questionando momentos atuais e o cotidiano do alunado.

Visitando a escola que estagiei, observei algumas aulas da professora de artes da instituição, em duas turmas: 6ºAno “A” e 6ºAno “B.” As turmas mostraram-se bastante eufóricas e inquietas. Como estavam comemorando a páscoa, as aulas foram de pintura envolvendo os desenhos de coelhinho da páscoa e de símbolos da páscoa, como o pão, o círio, o vinho etc.

Percebi que o alunado não se respeitava uns aos outros, pois, estavam quase sempre xingando os colegas e, algumas vezes, até mesmo batendo. Notei também que não tinham muita noção de limites. Levantavam-se o tempo inteiro das cadeiras e tinham dificuldade de fazer silêncio e escutar. Não davam muita atenção à aula e levavam tudo na brincadeira.

Pensava em trabalhar com o tema de como a escola era mostrada nos filmes americanos. Contudo, queria fazer algo mais diversificado. A partir das observações feitas das aulas que assisti e do conteúdo de artes visuais da escola, decidi por um tema que abordasse diferenças entre as pessoas, utilizando a cultura visual como base para a atuação, mas ainda não sabia como.

Percebendo que teria que chegar a uma decisão e afunilar as idéias que por sinal eram muitas e sem um foco, decidi focar nas diferenças visuais e escolhi o tema ‘‘Ser Diferente é Normal”. A partir daí comecei a pensar como trabalharia essas diferenças visuais apoiadas em alguns princípios da cultura visual. Comecei a pesquisar mais profundamente sobre cultura visual. Descobri que o alunado pode perceber o mundo de imagens em que vivem, pois, para a cultura visual não existem ‘’receptores nem leitores, mais apenas construtores e interprétes’’ (HERNANDÉZ, 2003, 144).

Muitas vezes, não percebemos como as imagens estão presentes em nossa vida e como têm o poder de afirmar verdades. A cultura visual nos mostra imagens carregadas de informações sobre nossa cultura e sobre nosso dia-a-dia. Entende-se que ‘’as imagens carregam referências culturais que estão cognitivamente vinculadas a outras imagens e constituem uma trama conceitual entre imaginário e significado’’ (FREEDMAN, 1994). Trata-se de uma outra maneira de ensinar Artes Visuais, não só através de pinturas, mas utilizando elementos da mídia, como a televisão, a moda, a publicidade etc.

Trata-se de uma tentativa de trazer a realidade do alunado para dentro da sala de aula, questionando as verdades veiculadas nas imagens e os fazendo conhecer primeiramente o mundo em que vivem e a cultura na qual estão inseridos. Sabemos que vivemos numa sociedade de padronização do indivíduo, que interessa bastante a mídia. As pessoas acabam esquecendo seus valores e sua cultura, alienando-se ao achar que só será aceito se for igual ao modelo imposto.

A cultura é a principal maneira de desmistificar esse conceito. Por isso, a importância de se conhecer a cultura em que se está inserido e observar a presença das imagens, percebendo-se neste universo. A partir disso, percebo que a mídia já está procurando se adequar a essa diversidade, claro que para tirar proveito, mas as diferenças já começam a serem representadas nos meios de comunicação em geral.

Com relação às pesquisas que fiz sobre as diferenças visuais das pessoas nas escolas, percebi que existem educadores(as) preocupados em discutir as diferenças, não só as diferenças visuais, mas também sociais e culturais.

Os assuntos de nossa história que estudamos na escola, por exemplo, nos mostram a dominação da burguesia branca, a escravidão, a miscigenação etc. Criam, de certa forma, um cotidiano escolar marcado por mitos. A educação poderia se tornar mais significativa, abordando tais conceitos com o dia-a-dia do alunado, pois, ''a proposta de uma educação voltada para a diversidade coloca a todos nós, educadores, o grande desafio de estar atentos às diferenças(...)e de buscar o domínio de um saber crítico que permita interpretá-las' '(OLIVEIRA, 2001). Faz-se necessário uma outra visão porque a maioria dos(as) educadores(as) também passou por uma educação contrária ao pluralismo étnico-cultural e racial, ou seja, não tiveram uma formação que os indicasse como lidar com as diversidades na escola.

Sei que trabalhar as diferenças não é fácil, mas é necessário entender como a diversidade se manifesta e em que contexto. Principalmente, quando se trabalha com as diferenças de forma consciente e partindo do cotidiano do alunado, relacionado sempre com a cultura em que estão inseridos.





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